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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A arte de conhecer a si mesmo

Rituais de cura

Desenhos são símbolos. E ao longo da história, em todas as culturas, muitas manifestações artísticas - dança, música, esculturas, pinturas corporais ou na areia etc. - têm sido usadas pelo homem em seus rituais de cura. A explicação para isso é que todas essas atividades possibilitam a decodificação das sensações.

Em uma sessão de Arteterapia, esse ritual se repete. A criação acontece de forma espontânea, sem preocupação com padrões estéticos. Entre os instrumentos utilizados estão pintura, colagem, modelagem, fotografia, tecelagem, expressão corporal, teatro, sons, músicas ou criação de personagens. Os resultados são muitos, rápidos e profundos, pois a arte possibilita a cura por meio da expressão das emoções e da ampliação da percepção do mundo subjetivo (consciência). Observando a própria obra, o paciente tem a oportunidade de comentar o que vê e percebe, além de identificar o que pode ser reformulado em sua vida.

Valéria Gestivo, consultora de Arteterapia do departamento de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palermo, e integrante do corpo docente da Arte Terapeuti Associati, com sede em Milão (Itália), fala que a arte, em si, representa "um veículo de liberação das angústias e do desconforto. Ela expressa a potencialidade e a realidade humana, mas também é um instrumento para compreender a si mesmo e até resolver algumas dificuldades".

Essas formas de se vivenciar as feridas emocionais permitem vislumbrar novas perspectivas. "A imagem em um pedaço de papel é uma mensagem de você para você mesmo. Como a arte é uma metáfora, ela proporciona a descoberta de possibilidades", afirma Selma Ciornai, psicóloga e psicoterapeuta, supervisora e coordenadora acadêmica do curso de Especialização em Arteterapia do Instituto Sedes Sapientiae, em SP.

Sob orientação

Para usufruir dos benefícios dessa terapia, não basta a prática de alguma atividade criativa. Segundo as especialistas, esse tipo de exercício é sempre relaxante e saudável, mas não significa que funcionará como Arteterapia. "Para que essa atividade cumpra seus fins, ela deve ser praticada sob o olhar cuidadoso de um profissional. É essa presença ativa do terapeuta que facilitará o processo de perceber e lidar com os próprios problemas e recursos", diz Selma.

"A proposta é trabalhar com o indivíduo de forma holística. Por isso, o que se espera dos terapeutas é que eles sejam hábeis na comunicação das palavras e das imagens", acrescenta Valéria. "No final do tratamento, o paciente deve ser capaz de ver as coisas belas que produziu como algo vindo do 'seu eu profundo', nascido dele, e com o qual poderá abrir sua própria janela para o mundo", completa.

Fonte:.http://romanegocios.com/medicina-e-saude/19206-a-arte-de-conhecer-a-si-mesmo

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Dicas da arte terapeuta Raquel Soutto

Dica da arteterapeuta.Raquel Soutto do blog http://arteeterapia.blogspot.com/ (Visitem!)


Liberte sua criança interior e faça dela sua melhor amiga. Ela é responsável pelos momentos mais leves e prazeirosos da vida, se você estiver de braços dados com ela.
Para tê-la sempre ativa e feliz procure saciar desejos seus simples, como comer um doce (de vez em quando, né?), por exemplo.
Um ritual que recomendo, para libertar a criança interior, é:
- Coloque uma música que gostava de escutar quando criança;
- Coma o doce que você mais gostava de comer;
- Faça uma lista de lembranças boas da sua infância;
- Desenhe com giz de cera a sua criança interior feliz! Curta o desenho. Nada de pressa. Desenhe com gosto cada detalhe dessa criança. Preocupe-se em desenhar também o local onde ela está.

Mantenha esse desenho sempre a mostra ou em um lugar de fácil acesso para que você possa sempre acessar essa energia novamente, quando estiver triste, deprimida, sentindo-se só, ou com qualquer desconforto emocional que possa ser curado com uma boa dose de leveza e alto-astral.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O que é Arteterapia

A Arte “em” e “como” terapia
O uso da arte como recurso expressivo remonta aos tempos primordiais, quando os hieróglifos, os rituais e as mímicas representavam formas de comunicação do homem com o mundo interno e externo. A Arteterapia, prática que propõe a utilização de recursos artísticos como ferramentas de um processo terapêutico, surgiu de forma sistematizada em 1941 nos EUA. Apresenta-se como um novo modelo investigativo da psique humana que vem crescendo e ganhando espaço na área de saúde e desenvolvimento humano. A partir do estímulo ao potencial criativo inerente a todo indivíduo, e do resgate da “criança adormecida” e do lúdico em nossas vidas, surgem novas formas de expressão dos questionamentos íntimos, das angústias, dores e medos.
Partilhando da visão poética de Boechat (apud URRUTIGARAY, 2003), um dos propósitos da Arteterapia é a libertação das mãos, criativas e criadoras, aprisionadas no ocidente em função de uma cultura cerebral, industrial e tecnológica. Qual a última vez que você desenhou, colou, pintou ou brincou com barro? A Arteterapia se predispõe a resgatar a liberdade criativa das mãos e recuperar atividades esquecidas ao longo da nossa formação.
Através do desenho, pintura, colagem, modelagem, poesia, contos, dança, teatro etc, e da reflexão em torno do que é produzido, os conflitos internos passam a ganhar forma, sendo configurados, confrontados e integrados, agora de forma consciente. Como bem nos lembrou Toquinho numa de suas canções (“Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel, num instante imagino...”), o contato com tintas, cores, barro, música, dentre outros materiais de trabalho, desperta no cliente estímulos sensoriais que favorecem o aparecimento de imagens carregadas de significados subjetivos. Alguns desses estímulos nos remetem a lembranças e memórias afetivas, nos fazendo entrar em contato com a nossa história e com nossos sentimentos mais profundos. Essas imagens, emoções e conteúdos emergentes são então discutidos e analisados, possibilitando uma melhor elaboração por parte do indivíduo. A materialização de imagens simbólicas permite o confronto e a conseqüente atribuição de significado às informações oriundas de níveis mais profundos e desconhecidos da psique. Transformando materiais, possibilita-se uma transformação no nível psíquico. Criando formas e corporificando símbolos, o indivíduo se recria, reconstruindo a sua relação consigo mesmo e com o mundo.
Você pode estar se dizendo: “Mas eu não sei nem pegar num pincel e desenho da mesma forma desde os meus 10 anos!!!”. Nenhum problema quanto a isso! Habilidades técnicas nos são bem menos preciosas que a predisposição a entregar-se na jornada do desvelar a si mesmo. Fundamental para nós é a expressão do subjetivo, o diálogo interno e a desmistificação de conteúdos e símbolos inconscientes que tendem a nos assustar ou paralisar. A arte aqui é entendida como meio de expressão e não cabe abordar questões de ordem acadêmica ou plástica. O valor simbólico da produção artística, na visão da Arteterapia, precede o seu valor estético.
Esse novo modelo terapêutico vem encontrando receptividade e espaço em diversas áreas de atuação: hospitalar, escolar, clínica, organizacional, comunitária, ONG, CAPS, dentre outras. Apesar de essa prática ter se expandido inicialmente na área de saúde mental, a sua utilização não se restringe a um público específico. Todos, não importa a idade, podem se favorecer com o despertar de potencialidades, o acesso às imagens do inconsciente e a possibilidade de ressignificar as experiências vividas, benefícios básicos da prática da Arteterapia. Trata-se de um convite ao autoconhecimento através de um caminho lúdico, criativo e prazeroso. Além disso, muitas vezes, torna-se mais fácil pintar uma angústia ou um trauma que falar sobre eles...

“Se cada dia cai, dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência.”
(Pablo Neruda)
Sinta-se convidado, enquanto indivíduo em ação, a “pescar” sua “luz caída” através desse universo de cores, símbolos e descobertas, permitindo que a claridade revelada pelas suas próprias mãos possa trazer um sentido ainda maior à sua história de vida.

texto de :Carla Maciel é psicóloga (UFBA), psicoterapeuta junguiana (IJBA)) e especialista em Arteterapia pela Universidade Denis Diderot Paris VII – França. Atualmente é professora, supervisora e coordenadora da Pós-Graduação em Arteterapia Junguiana do Instituto Junguiano da Bahia.

sábado, 6 de novembro de 2010

ARTE-CURA: Colcha de Retalhos

ARTE-CURA: Colcha de Retalhos: "No filme “Colcha de Retalhos”, sete mulheres se reúnem para bordar uma colcha de retalhos na qual o tema é “onde vive o amor”. O difícil de ..."http://arte-cura.blogspot.com/2010/11/colcha-de-retalhos.html?spref=bl

Assim como fizeram as mulheres do filme"Colcha de Retalhos",podemos através da arte resgatar desejos,sonhos,sensações,lembranças.Esse é o caminho para o crescimento e o desenvolvimento que inclui o resgate do prazer e da alegria tão necessários para o equilíbrio da nossa condição psíquica.
Tatiane Dornellas


COLCHA DE RETALHOS
Élvio Vargas



Pendurei a esperança

na parte mais alta
Colcha de retalhos - imagem obtida na Internet - autor não referido.do varal
roupa suja, mancha, vícios
ficaram enxaguados
no fundo dos baldes
paixões encardidas e panos
permaneceram alvejados
no silêncio dos tanques.

Os fios engruvinhados da memória
As borbulhas que na água brotaram
não eram minhas
nem tuas
pertenciam ao espólio
dos amores submersos.
Pássaro, rio, nuvem, voaram
restaram a solidão e o retrato.
Para espantar as sombras
varremos o pó das lembranças
e o cisco da existência.

Os fios engruvinhados da memória 

pespontamos nos labirintos
de um ponto cruz.
Almas, saudades, presságios e tempo
são retalhos de uma pequena colcha
bordada com lãs de outono.
Delicado tecido de paciência
cerzindo com nós de orvalho
o lento enigma da vida.



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Arte Terapia

Entrevista de Paulo Urban concedida à Mestra Maria Teresa Provenzano da Luz, arterapeuta, publicada em sua dissertação de mestrado, LAUREADA com distinção pela banca examinadora do Depto de Psicologia da Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo, (RS), em março de 2008.
Publicada em:http://www.amigodaalma.com.br/2010/03/28/arteterapia/ por Paulo Urban em março/2010


                    

ENTREVISTA


1. Como a Psicologia Analítica vê a Arteterapia? Ou… onde está, onde se enquadra na Psicologia Analítica, a Arteterapia? Qual a sua importância?
Ora, o que primeiramente deve ser dito é que a psicologia analítica, seja como instrumento terapêutico, seja como um sistema de compreensão de nosso psiquismo, não traz por ambição opinar sobre o valor estético das obras de arte, nem pretende criticar qualquer autor, bem como suas respectivas produções artísticas, muito menos sabe explicar esse fenômeno psico-cultural, que se traduz por tudo aquilo que possamos chamar de manifestação da arte. Estes domínios estão sob prerrogativa dos críticos e dos acadêmicos.
Por outro lado, ao olhar da psicologia analítica, em sua construída tese acerca da realidade psíquica dos arquétipos, que são vistos como entidades vivas e funcionalmente presentes na alma individual e coletiva, jamais poderia passar despercebido o fato de que toda e qualquer produção artística mais elaborada, traz inevitavelmente, per si, nuances de um colorido simbólico coletivo que, propriamente, são manifestações genuínas do dinamismo desses arquétipos, filtrados, claro, pelas capacidades artísticas e criativas do indivíduo que as expressa.
Diante disso, a psicologia analítica se entretém com a decifração simbólica do material artístico que vem à luz, aquele que, deixando as profundezas coletivas do Hades, cruza o Estige da alma individual e se materializa no interregno clínico. Tais produções geralmente trazem elementos que não somente podem nos fornecer um panorama de como era (ou estava) o psiquismo coletivo à época da humanidade em que ganharam vida, como também nos fornecem valiosas pistas em relação à natureza psíquica daquele que os produziu, dando-nos inclusive uma razoável idéia quanto à orientação arquetípica de sua alma.
Nesse sentido, a arte terapia assume particular importância, pois abre caminhos para indagações e reflexões mais profundas acerca do psiquismo humano em seu estado puro, criador de imagens, podendo, através dos elementos simbólicos expressos, encontrar uma via segura de interlocução e de entrada para os domínios interditos da alma. 
 2. O doutor acredita que a Arte terapia possa abrir um importante caminho para o interior da psique, estabelecendo canal de comunicação entre paciente e terapeuta? Conseguiremos melhorar e fortalecer, por meio da Arteterapia, a qualidade de vida emocional/afetiva?

Claro que sim. Se compreendermos a importância de toda produção artística como porta de acesso ao inconsciente profundo, devemos admitir então que ela seja uma via de mão dupla, a partir da qual se torna possível inferir, considerando o material simbólico projetado (aquilo que vêm à tona em cada produção), algo do que se passa nos domínios da alma individual que, por sua vez, sempre se encontra em sintonia com determinados temas arquetípicos presentes ou recorrentes, que acabam sendo notados por detrás do véu subliminar da produção artística que os protege ou disfarça.
Esta via de dupla mão que se estabelece através da arte, esse canal que permite operar o diálogo entre consciente e inconsciente, ganha dimensão terapêutica quando se torna via recíproca de interlocução saudável entre o agente curador e seu paciente. O arte(psico)terapeuta, entendo, seria aquele que se propõe a melhor compreender os mistérios desse trajeto e passa a explorar os acessos que ele viabiliza como oportunidades de troca, criando um vínculo emocional seguro com seus pacientes que lhe permita trabalhar em prol de sua cura psicoemocional.
Sementes, óleo sobre tela, Jussara Regina Marchezini, 1997, (MG)
Sementes, óleo sobre tela, Jussara Regina Marchezini, 1997, (MG)
3. Que efeitos terapêuticos poderemos alcançar com o auxilio da Arteterapia em crianças e adolescentes?
Todo psiquismo, seja ele adulto, maduro, ou infantil, tem por função inata e perene gerar toda uma série de imagens arquetípicas. Mas deixemos claro: a simples emergência de tal conteúdo simbólico não caracteriza por si só obra de arte alguma, mesmo porque tais arquétipos estão naturalmente presentes em seu estado original em nossos sonhos, fantasias, devaneios, e não requerem elaboração artística de nenhuma espécie para que se apresentem nus e crus ou disfarçados à nossa mente consciente.
Para que determinada produção se caracterize como arte é preciso, antes de tudo, que nela possamos reconhecer certas características próprias do processo criativo pertinentes à complexidade e à sensibilidade envolvidas em sua elaboração.
Claro que um psiquismo adulto, bem como o de um jovem em processo de amadurecimento, poderão melhor elaborar que uma criança as imagens primordiais que nele habitam, e dar assim a elas certo colorido estético que permita ser classificado como arte. Isso não quer dizer que uma criança não possa trazer também consigo talentos inatos e expressá-los como verdadeiros dons artísticos, afinal, sempre há crianças-prodígio capazes de produzir pura arte que nenhum adulto jamais saberia expressar com tanta perfeição. 
Entendo, entretanto, que a questão aqui não se refira ao valor estético ou cultural daquilo que crianças e adolescentes possam expressar, senão ao quanto de sua produção possa ser expressão plástica de seu mundo interno, repleto de imagens e arquétipos que nos desafiam a compreender seus obscuros significados. Tais elementos nos servem como passagem, como ponte para uma interlocução verdadeira e melhor reconhecimento dos padrões emocionais que jazem sob o material “artístico” emergente.
Nesse sentido, independentemente da faixa etária do indivíduo, pouco importando se estamos diante de uma personalidade já desenvolvida, ainda incipiente, ou em franco processo de desenvolvimento, o principal é saber que todo e qualquer psiquismo pode ser abordado através da porta que, não por acaso, ele mesmo nos abre toda vez que se expressa artisticamente, seja por meio de pinturas, composição poética ou musical, expressão dramática etc…     
Ora, guardadas as diferenças conceituais entre aquilo que possa ser considerado arte e todo o resto, isto é, aquilo que ao menos representa uma produção simbólica pessoal, o caso é que tanto artistas e gênios, como as pessoas comuns, procuram ambos ao seu modo transmutar os elementos arquetípicos que lhe são próprios e, através deles, sintetizar os contrastes e as incoerências que caracterizam seu amálgama emocional, bem como seus conflitos internos que geralmente vivem presos a núcleos neuróticos latentes. Artistas ou não, o caso é que todos somos capazes de expressar através de capacidades criativas as mais naturais e espontâneas, os nossos mais bem guardados sentimentos, elevando-os, senão à sublime qualidade de arte, ao menos à possibilidade de interlocução, de contato e de exploração, também como via de relacionamento nosso com o meio e, por que não, como um sincero pedido de ajuda, um apelo à possibilidade de uma eficiente e curativa intervenção terapêutica sempre que ela se faça necessária.

4. Reestruturar a auto-estima, reconstruir, fortalecer e empoderar emocional e afetivamente uma adolescente abandonada e vítima de violência doméstica com a Arteterapia , consoante seu modo de ver, é tarefa possível?
Não só creio seja isto viável, como é imprescindível que possa ser feito. Os alcances da arteterapia são de fato muito abrangentes. Mas não devemos esquecer as características particulares de cada caso e decidir quais são as prioridades terapêuticas, isto é, passo a passo estabelecer as diretrizes, a estratégia de abordagem de nossos diferentes casos. Difícil querer propor uma sessão de arteterapia para quem acaba de ser internado em franco surto psicótico, sem capacidade mínima para concentrar-se; ou querer que alguém que tenha sido vítima imediata de violência doméstica sinta-se à vontade para expressar-se artisticamente, enquanto ainda se encontra sob impacto do trauma corporal sofrido, precisando concretamente, além do apoio psicológico e de esclarecimentos jurídicos, antes de tudo, de um coração e um par de ouvidos.
Mas, é claro, todos os caminhos terapêuticos têm sua funcionalidade, sua eficiência e seu caráter curativo. Por que não seria a arteterapia uma das ferramentas adequadas a reestruturar nossa auto-estima, a nos recolocar diante de nossa própria dignidade ameaçada sempre que sofremos episódios de agressão ou outras tantas violências? Talvez esteja aí uma das maiores virtudes da arte, a de dar vazão a tudo de “bom e de ruim” que precisamos expressar, transmitir, purgar ou exorcizar. Ela nos oferece também a chance irracional de pôr pra fora aquilo tudo que não mais queremos suportar, aquilo que mal compreendemos racionalmente, mas que tem sido o peso em chumbo de nosso mundo emocional. Tudo aquilo que expressamos guarda, em tese, verdades que às vezes nem cabem mais em nós, são pesos que nos atrasam os passos, amarram-nos à sombra de nós mesmos, e seu respectivo material simbólico nada mais é que um lancinante pedido de ajuda, um clamor sincero para que seja identificado e bem interpretado, em busca de sua curadora re-significação. Tudo o que vem de nós não nos deveria ser estranho; por isso, merece ser primeiramente identificado e reconhecido, para que, a partir de sua manifestação, possa ser terapeuticamente trabalhado. Re-significar nosso mundo interno, bem sabemos, acaba mais cedo ou mais tarde nos levando a um caminho curativo pela assimilação e pela transformação de valores que são essencialmente nossos e que devem deixar de pesar feito chumbo alquímico em nosso inconsciente; todos os elementos soturnos que trazemos devem ser pacientemente operados até que possam ser trazidos à luz da consciência e então reencontrar sua importância, seu devido valor e seu real brilho no equilíbrio da absoluta mandala alquímica em que se traduz o psiquismo ele todo.  
"Passado" - Vida Sofrida, acrílico sobre tela, Elisalva Gomes Rodrigues, 1999, (BA)
"Passado" - Vida Sofrida, acrílico sobre tela, Elisalva Gomes Rodrigues, 1999, (BA)
5. Qualidade de vida e reconstrução afetiva é o que nos propomos. Será isto possível através da Arteterapia?
Creio seja o principal papel da arte o de nos fazer sentir. A arte existe para nos tocar; é ela quem nos arremeda a novos sentimentos e provoca o despertar em nossas almas de seu quê de visceral, fazendo pulsar o aspecto radical divino que em cada um de nós reside de forma latente. A arte, dado seu caráter evolutivo e criativo, propõe-nos sempre uma viagem rumo ao inesperado, provoca em cada viajante a percepção de sentimentos sublimes, depurados, incomuns à ordinária percepção da consciência. Por isso é que ela, concomitantemente nos leva, nos enleva e nos eleva. E, às vezes, tem ainda o poder de nos alçar, de nos arrebatar a patamares inéditos de entendimento, a estados ampliados de consciência. Nesse sentido, a arte é tanto uma via de expressão como de educação e aprimoramento de nossa alma.
Mas é bom lembrar, como há pouco dissemos, que pacientes não são artistas. Quando quer que meramente se permita aos pacientes que seus conteúdos inconscientes ganhem expressão no âmbito terapêutico, passa a ser obrigação do arte(psico)terapeuta analisar e interpretar devidamente com (e para) o paciente o intrincado aspecto de seu material simbólico, sob pena de, em não se fazendo isso, apenas perpetuar seu estado de desequilíbrio psíquico, ou ainda piorá-lo por negligência clínica.
Nesse sentido, palavra e linguagem são peças imprescindíveis para que se estabeleça a confiança entre paciente e terapeuta, no intuito de que ambos possam se aproximar e reciprocamente oferecer um ao outro a chance de melhor se (re)conhecerem e juntos trilharem os caminhos possíveis em busca da almejada cura psicoemocinal. Para melhor integração de certos valores inconscientes é, pois, necessário que haja o reconhecimento e assimilação verbal dos processos psíquicos que estão a eles intrinsecamente relacionados. Só assim, mediante o trato direto com esses nossos aspectos ocultos, é que poderá o indivíduo realmente tanto enfrentar-se a si mesmo como transmutá-los e trazê-los de forma saudável à luz da consciência, de modo a colaborar para a melhoria de qualidade e amadurecimento de sua vida psicoemocional.  


6. Em que consiste, para o doutor, a cura? …é ela uma verdade para a Psicologia 
Analítica ?
Bem, pude tranquilamente valer-me até aqui da psicologia analítica como referencial teórico para todas as questões acima, conforme estas me foram formuladas, mas, em se tratando da questão crucial da cura e de como ela se processa, prefiro responder a isso como Psicoterapeuta do Encantamento, em acordo com minha própria abordagem psicoclínica, cujo escopo teórico e práxis terapêutica vêm sendo passo a passo construídos, à medida que recolho e vivencio uma particular e cotidiana experiência terapêutica, desde quando me formei há 20 anos em medicina e me especializei, há 17, em psiquiatria e psicoterapia.
A Psicoterapia do Encantamento tem a psicologia analítica apenas como um de seus mais importantes referenciais teóricos e preocupa-se, sobretudo, com o caráter alquímico de todo o material simbólico inerente ao psiquismo profundo pessoal ou coletivo, conforme esses limites foram estabelecidos por Jung.
Portanto, se é possível falar de uma cura psíquica, prefiro dizê-la dentro do estrito âmbito terapêutico que professo, e fazê-lo a partir de critérios próprios, com os quais me sinto mais à vontade para inferir o que podemos esperar ou não dos casos com os quais lidamos em nossa prática psicoterapêutica corrente.
Segundo propõe a Psicoterapia do Encantamento, a cura em si é sempre algo simples, difícil mesmo é se chegar a ela. Isto porque a verdadeira cura exige a transmutação (sempre um processo profundo e radical, embora às vezes, de caráter instantâneo) do padrão patológico operante, gerador e determinante de sintomas, síndromes e várias outras situações mórbidas, neuróticas ou psicóticas. Tal padrão é o que, em última instância, precisa ser primeiramente corretamente identificado e isolado, para daí, então, ser psicocirurgicamente tratado. Entrar no coração de cada paciente é tarefa xamãnica, que muitas vezes, quase sempre, transcende os limites do discurso. É algo ainda que só pode ser feito na sacralidade, com silêncio e oração, é o mesmo que adentrar num santuário. Encaro ainda o coração dos meus pacientes como um verdadeiro laboratório alquímico, termo este oportuno, pois é justamente nos interior dos laboratórios (lugar de trabalho + oração: labor + oratório) que os alquimistas processavam suas queimas e reações, sua misturas e dissoluções, até que pudessem com toda a paciência e perseverança do mundo encontrar o extrato (a pedra ou o elixir) capaz de catalisar seus processos psíquicos mais profundos, necessários à evolução e ao despertar de sua própria consciência.
Portanto, só mesmo penetrando no laboratório de cada paciente e procurando senti-lo em sua essencial condição é que podemos presumir onde está guardado o foco a ser mexido, o nó a ser desfeito, o sacrário onde se oculta a hóstia divinal da cura, a mandala que precisa ser tratada, o núcleo a ser transformado, o padrão psico-energético que clama pelo bisturi capaz de extirpá-lo, a fim de que se possa a partir disso instaurar-se o processo de cura em todo o psiquismo.
Claro é que tal processo de cura, tão logo seja deflagrado, poderá ainda levar toda uma época, anos talvez, uma vida inteira ou ainda muitas vidas até que se realize em sua plenitude cármica, puro e por completo. Sempre que alcançamos os núcleos emocionais, sejam eles de natureza psicorgânica, ou entraves neuróticos ou psicóticos a serem mexidos, e assim o fazemos, temos aí a chance de transformar os velhos padrões mórbidos de funcionamento psíquico. Curar é pôr a mão na teia, é percuti-la e desfiá-la, é tocá-la para transformá-la, é refazê-la se preciso, é tecê-la nova e limpa, sobretudo, com amor.
Uma vez tendo sido alcançada a real transmutação alquímica daquilo que até então se comportava como nodo doentio, é que a verdadeira cura então se opera, ao menos é a partir daí que seu processo se instaura, processo este que pode ser algo instantâneo ou deflagrador de mudanças evolutivas que irão ocupar anos a fio de nossa existência, quiçá ela toda, ou ainda muitas vidas além desta. Isto porque a psicoterapia do Encantamento não visa simplesmente à cura da personalidade, senão à da alma essencialmente, essa mesma que assume a cada existência as suas diferentes vestes. 

Paulo Urban é escritor, médico psiquiatra e criador de sua própria abordagem psico-clínica, a Psicoterapia do Encantamento, que valoriza o universo inconsciente e se propõe a explorar a Mitologia Pessoal por meios de sessões psicodinâmicas e estados ampliados de consciência.
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