Quando se fala em terapia, a primeira coisa que vem à cabeça é alguém deitado em um divã e um analista com um bloquinho de anotações. Pare agora para imaginar uma sessão de terapia onde o paciente usa fotos, colagens, música e imagens como discurso e objeto de análise. A Arteterapia funciona assim: a arte dá voz ao que se passa no interior de cada um.
Princípios
A Arteterapia é baseada na crença de que os recursos artístico-expressivos contribuem para a expressão e comunicação de sentimentos, pensamentos, vivências, tendo a vantagem de quebrar a barreira da palavra.
"A linguagem simbólica, que é a da arte, é a mesma "falada" pelo inconsciente. Para algo fazer sentido é preciso que a dimensão simbólica seja acessada. Quando nos expressamos artisticamente, nos abrimos para um diálogo interior em que o inconsciente mostra o que está nos "bastidores" da psique, nos colocando em contato com sentimentos que estão na base de nossos comportamentos e atitudes, promovendo questionamentos e transformação. Arte ajuda a desenvolver potencialidades que nos tornam mais ricas e integradas", explica Patrícia Pinna Bernardo, coordenadora da Pós-graduação em Arteterapia e da Pós-graduação em Arteterapia Aplicada: saúde, artes, educação e organizações (UNIP).
"A abordagem utiliza recursos como poesia, contos, música, escultura e jogos com foco no desenvolvimento humano ou terapêutico", explica Gislene Nunes Guimarães coordenadora da CENTRARTE - Centro de Estudos em Arteterapia, Psicologia e Educação/FAVI, em Porto Alegre.
Como funciona?
Aline Cabral, artesã e arteterapeuta, pontua: "A partir de análise das reuniões iniciais, onde conversamos com o grupo ou com o paciente, partimos para um diagnóstico do que deve ser trabalhado e sugerimos os métodos que poderão ser usados". Tudo varia de acordo com o contexto (hospital, instituição) e com o público (criança, idoso, adulto).
Aline Cabral, artesã e arteterapeuta, pontua: "A partir de análise das reuniões iniciais, onde conversamos com o grupo ou com o paciente, partimos para um diagnóstico do que deve ser trabalhado e sugerimos os métodos que poderão ser usados". Tudo varia de acordo com o contexto (hospital, instituição) e com o público (criança, idoso, adulto).
Patrícia detalha o processo: "As primeiras atividades vão ajudar a pessoa a se sentir confortável e acolhida no espaço terapêutico (formação do vínculo), a se apresentar e olhar para o seu percurso de vida, a se perceber melhor (como ela se vê e se coloca no mundo), a entrar em contato com o que pede a sua atenção especial (o conflito atual). Ou seja, é feito o diagnóstico do que a pessoa precisa trabalhar em si. Depois o arteterapeuta propõe atividades que ajudem no trabalho dessas questões. A pessoa também pode sugerir as técnicas (pintura, modelagem, colagem etc)".
Aline cita como exemplo o trabalho que desenvolveu em uma instituição voltada a recuperação de viciados: "Eles falavam da saudade que sentiam de suas origens, a atual falta de identidade e a busca por um local no mundo. Logo vimos que deveríamos trabalhar o elemento terra, de diferentes maneiras. A partir de um tema sugerido para cada sessão, um trabalho artístico era feito. Em um deles, levamos sementes, areia e usamos em colagens que representassem o que estavam sentindo. Em outro, trabalhamos contos e fomos para o Jardim Botânico, para que vivenciassem realmente características da terra: o cheiro, o contato, a natureza".
Ela conta que transformações eram percebidas a cada sessão. Se antes eles chegavam receosos e muito desconfiados, aos poucos foram se soltando e se sensibilizando. "A arteterapia provoca uma reação, instiga. Nesse grupo, muitos tinham problema de cognição, não conseguiam formar uma frase inteira, uma linha de pensamento, em decorrência do uso excessivo de drogas. Conseguimos melhorar a autoestima deles pela arte, pelo trabalho manual. Era claro: a cada sessão, a confiança no nosso trabalho e neles mesmos melhorava e se traduzia no próprio asseio e cuidado com higiene e roupas", completa.
Gislene conta que o trabalho mais marcante foi desenvolvido com um grupo de mulheres vítimas de violência e que, portanto, tinham dificuldade de estabelecer uma relação completa com o outro. "Durante 6 meses, em encontros semanais, foram trabalhadas a criança interior que não recebeu o afeto e cuidado esperado, a adolescente que muito cedo viu que o príncipe era um sapo, diante de uma gravidez precoce. Foi um grande desafio despertar do sono e da inércia esta mulher adulta, regatando o encantamento de ser responsável pelos seus sonhos e autora do enredo de uma nova história".
Publicação de:http://www.bolsademulher.com/mundomelhor/arteterapia-103334.html
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