sábado, 16 de março de 2013

De onde vem a arteterapia?


 – 8 DE MARÇO DE 2013/  http://www.institutoevoluir.com.br

Com o alvorecer da Psicanálise, no início do século XX, Freud se interessou pela arte e concluiu que o inconsciente se manifesta através de imagens, que transmitem significados mais diretamente do que as palavras. Observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente na produção artística, retratando conteúdos do psiquismo que, para ele, é uma forma de catarse[1]. Mas, ideia de utilizar a arte como instrumento para acessar o inconsciente surgiu do médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica e pesquisador do funcionamento do corpo e da mente do homem. Houve então o surgimento de estudos que envolveram as atividades artísticas como instrumento de expressão da interioridade do indivíduo

A Arteterapia nasceu entre o final do século XIX e o início do século XX, quando Jung abordou entre 1875 e 1961 a teoria dos arquétipos que traduz as imagens primordiais, os conteúdos imagísticos e os simbólicos do inconsciente coletivo, compartilhados por toda a humanidade e explicitados em mitos e lendas ou no imaginário individual. Ele identificou também a dificuldade que as pessoas enfrentavam para mobilizar afetos profundamente guardados e trazê-los à consciência por meio do instrumento verbal (JUNG, 2001). A partir daí, Jung compreendeu o fato de a espécie humana ter escolhido caminhos mais suaves de expressão, como a dança, as representações mímicas, a pintura, a escultura e a música (JUNG; WILHEIM, 2001).

Dupla eficácia
Jung identificou em suas pesquisas sobre simbolismo, uma relação entre os sonhos dos indivíduos que atravessam crises interiores e os desenhos que eles produziam. Descobriu a arte[2], como forma pura de expressão para a demonstração do inconsciente do indivíduo. Pôde verificar também em seu trabalho clínico que a produção artística em especial o desenho e a pintura, ao estimular a concentração, imaginação e a criatividade, poderia apresentar dupla eficácia: conservar a ordem psíquica ou restabelecê-la. Jung criou o processo de autodesenvolvimento, denominado individuação, envolvendo a criatividade e a concretização de imagens que possibilitam contato com o inconsciente pessoal e coletivo.

Concluiu então, que para o indivíduo ser inteiro necessita integrar-se consigo mesmo e diferenciar-se do outro. Foi nessa linha que a arte surgiu como ferramenta para a modificação da realidade interior do indivíduo e para a sua realização pessoal (JUNG, 2007). Naquela época, havia uma preocupação do psicológico com o entendimento da mente humana e entre as técnicas utilizadas para essa compreensão à produção artística a qual era a mais investigada.
O termo Arteterapia surge pela primeira vez em 1945, no primeiro livro publicado por Adrian Hill “Arte versus Doença”. Adrian Hill, artista inglês, esteve internado num sanatório para tratar uma tuberculose. Durante o longo período de evolução da sua doença e reabilitação, numa época em que os recursos para combatê-la eram escassos, ele ocupou o tempo de internação desenvolvendo pinturas. Os médicos que o assistiam puderam observar uma aceleração na sua recuperação e um estado geral de bem-estar manifesto.
Após o seu restabelecimento, eles convidaram-no a regressar para fazer pintura com os pacientes internados no sanatório. Desde esses acontecimentos a Arteterapia evoluiu significativamente, tanto do ponto de vista dos modelos que a caracterizam das formações existentes, como dos países em que é reconhecida até hoje. Basta dizer que a Arteterapia é um dos meios terapêuticos reconhecidos e subvencionados pelo sistema de saúde britânico. Ela é, a título de exemplo, reconhecida pela Associação Internacional para o tratamento de Esquizofrenia.

A partir dessas iniciativas na psiquiatria e na arte, da valorização da arte dos chamados “loucos”, da compreensão de que a produção artística traz benefícios para o bem estar psíquico do indivíduo, vemos surgir a Arteterapia como disciplina, em especial nos Estados Unidos com o trabalho de Margaret Naumburg que em 1941 desenvolveu um trabalho de “arte-terapia dinamicamente orientada” num hospital psiquiátrico.
Terras brasileiras
Em 1969, foi oficialmente fundada a Associação Americana de Arteterapia (AATA).
A Arteterapia chegou ao Brasil através do psiquiatra Ulysses Pernambucano, que foi o pioneiro no uso da Arteterapia entre pacientes psiquiátricos, já na em 1920. Outros médicos inspirados em seu trabalho publicaram artigos e aplicaram a técnica em algumas instituições ao longo do século XX. Dois grandes psiquiatras brasileiros também o fizeram: Osório César e Nise da Silveira.
A psiquiatra Nise da Silveira inaugurou no Brasil em 1946, uma das terapias mais crescentes no país: a Arteterapia. Ao trabalhar no Centro Psiquiátrico D. Pedro II no Rio de Janeiro procurou compreender as imagens produzidas pelos pacientes sob a ótica da teoria junguiana, fez um excelente estudo e deixou um grande legado para a Arteterapia. Trabalhos dos internos foram apresentados por ela em congresso de psicopatologia na Europa. Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente e em 1981 escreveu o livro “Imagens do Inconsciente”.

Inspirados no trabalho da Drª Nise da Silveira inúmeros profissionais passaram a se utilizar das técnicas artísticas no tratamento aos transtornos mentais.
Esses pesquisadores e seguidores de Nise da Silveira no Brasil e no mundo, implantaram a arte como base de apoio terapêutico possibilitando ao paciente por meio dessa intervenção desvendar os mistérios contidos no seu inconsciente.
A lacaniana Françoise Douto em 1972 utiliza a arte como meio de comunicação com crianças. Através de gestos, mímica, desenho, escultura e outras expressões, ela interage com crianças, até mesmo com as que não falam, procurando desta forma ajudar também no desenvolvimento motor, no raciocínio e no relacionamento afetivo. Ao utilizar os princípios da Gestalt-Terapia Janie Rhyne relata a sua experiência e as transformações de seus clientes com a aplicação de suas técnicas de fazer arte. Escreve o livro “The Gestal Art Experience”[3] que mostra a possibilidade de o indivíduo promover o contato com os conflitos e reorganizar as próprias percepções através da arte. Natalie Rogers, filha de Carl Roger sem 1974 aplica os princípios da teoria centrada na pessoa junto ao trabalho expressivo como pintura, modelagem expressão corporal, teatro, dança, música, poesia e mímica. Ela demonstra que a expressão deve ser verbalizada e compreendida pelo próprio paciente e não interpretada pelo terapeuta. Denomina este trabalho de Conexão Criativa.
Na década de 1980 essa abordagem foi trazida ao Brasil por Selma Ciornai, psicoterapeuta Gestáltica com formação em Arteterapia em Israel e nos Estados Unidos. Foi ela quem criou e desenvolveu em São Paulo, o curso de Arteterapia no Instituto Sedes Sapientiae. Outras teorias mais recentes vêm fundamentando a Arteterapia, como o psicodrama de Moreno, as linhas humanistas, sistêmica e transpessoal. A Arteterapia, sem sombra de dúvida contribui ascendentemente para que o homem do século XXI possa adquirir maior qualidade de vida.
Texto extraído da Pesquisa científica “Arteterapia como Coadjuvante no Tratamento dos Transtornos Mentais/2012.
Autoria de Monica Abete – Arteterapeuta e psicopedagoga no Instituto Evoluir



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