Cuidador sofre tanto ou mais que o doente
Por Renée Staudinger (redacao@eshoje.com.br).
Levantar todos os dias e viver como se fosse ontem. Assim é para quem sofre de Mal de Alzheimer, uma doença degenerativa e sem cura, que acomete 1,2 milhões de brasileiros e se desenvolve a partir dos 65 anos de idade. Tal doença não atinge apenas os pacientes: na verdade os que mais sofrem e lutam diariamente são os cuidadores que muitas vezes não estão preparados para lidar com a situação. E para esclarecer todas as dúvidas sobre tal enfermidade e orientar como os familiares de quem é portador da doença devem proceder, que vai acontecer na próxima sexta-feira (24) um encontro aberto ao público com a realização de palestras educativas para promover o dia mundial do Mal de Alzheimer, comemorado no dia 21 de setembro.
A perda progressiva da memória é um dos primeiros sintomas a se manifestar no paciente. O que antes poderia ser respondido com facilidade a respeito dos hábitos diários, passa a ser um esquecimento sem fim. A presidente do Grupo de Apoio a Familiares de Alzheimer, Maria José Lobato Portugal, passou dez anos de sua vida tomando conta do seu marido que era portador da doença. Durante esse tempo, dona Maria presenciou a triste realidade de ver uma pessoa amada perder a memória progressivamente.
"Todos os dias meu marido se esquecia dos acontecimentos recentes. Pensava sempre que não tinha comido, mesmo depois de ter acabado de ter feito uma refeição. Ele se lembrava apenas das coisas do passado e, por isso, sempre agia como se tivesse parado no tempo. Como ele trabalhou quase sua vida inteira no Banestes, sempre quando acordava se arrumava para ir trabalhar. Ele não conseguia se lembrar que já tinha se aposentado. E eu sempre respondia: meu bem, hoje é domingo. Quando chegar segunda-feira você vai trabalhar. Além disso, sempre me falava: quero ir embora. E só depois de algum tempo, que eu fui entender que ele queria estar em Cachoeiro (lugar onde vivíamos a maior parte de nossas vidas)", relatou.
Mas a luta diária de quem tem um familiar com Mal de Alzheimer não é apenas de tentar lembrá-lo de situações. O comportamento do paciente muda radicalmente e toda a casa tem que ser adaptada para suprir as necessidades de tal portador. "O paciente muda muito de comportamento. Se a pessoa fosse calma antes de estar doente, depois passa a ser agressiva. E os cuidados têm que ser sempre minuciosos. Não se pode deixar tapetes pela casa e nem objetos cortantes expostos. No meu caso, eu tive até que tirar o box e trocar por uma cortina de plástico para, assim, evitar de ele se machucar e facilitar para eu dar banho nele", afirmou.
A doença ainda é objeto de estudo no campo da medicina. Ainda não se sabe as reais causas e se é hereditário. Apesar disso, é possível perceber que o choque emotivo é um dos fatores que, geralmente, desencadeia a doença. "Quando a pessoa passa por um choque muito grande ou um estresse, tem mais propensão a ter a doença. Apesar de ainda não ser comprovado que o emocional é um fator preponderante, muitas pessoas começam a apresentar os sinais do Mal de Alzheimer quando passa por uma situação difícil. Com meu marido, aconteceu isso. Ele tinha um tumor e teve que amputar a perna e, logo depois começou a ter falhas na memória", comentou.
Faz cinco anos que o esposo da dona Maria faleceu. Helvécio Portugal Neves proporcionou à dona Maria a sabedoria de ajudar aos cuidadores como agir diante dos sintomas da doença. "É uma doença que não tem volta e vai se agravando cada vez mais. E com a minha experiência de cuidadora resolvi fundar esse grupo de apoio para tirar todas as dúvidas e orientar no que for necessário. A falta de informação pode chegar a prejudicar a doença, pois mesmo que não haja cura é necessário saber como ajudar o paciente, isto é, sempre tem que estar cativando a exercer o cérebro, seja lendo ou até mesmo fazendo palavras-cruzada. Mas, o que poucos sabem é que dificilmente o portador de Mal de Alzheimer vai morrer por causa da doença. Na verdade, os pacientes de uma forma geral morrem de pneumonia por sentirem dificuldade de engolir e, assim, a comida pode ir para o pulmão. Por isso, é extremamente importante saber o que fazer e quais são as necessidades do paciente", informou.
Um comentário:
Oi!
Minha mãe tem Alzheimer e hoje já não lembra nem quem sou eu. Fiz um texto sobre isso, aliás, e postei no meu blog. Antes eu não falava dela, meu blog é sobre artesanato, mas com o tempo, ela passou a ocupar meus dias de tal modo que para o artesanato mesmo sobra quase nada, só consigo fazer crochet porque sento com tudo do meu lado e não deixo ela pegar, assim, passei a escrever sobre ela também ou sobre as consequências da doença no nosso dia a dia. Eu escolhi cuidar da minha mãe, mas sei que muitas pessoas não podem. Por isso acho que sou privilegiada. Beijos! Rosa
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